É de uma revolução que se trata, mas não de uma memória de 1917. Em outubro de 2000, quando Graça Castanheira está em Belgrado para filmar a experiência do casal de realizadores Zoran e Svetlana Popovic que aí animam uma escola de cinema, a História rebenta em volta, com a população a tomar nas mãos a própria queda do regime de Milosevic (entretanto derrotado nas eleições mas a resistir ao abandono). Sem deixar cair o projeto, Castanheira não pode senão alargá-lo, filmando essa revolta em direto, sempre a partir da relação com o microcosmos do casal. Ao fazê-lo, dá-nos mais um extraordinário exemplo da mudança operada por esta geração no seio do documentarismo histórico, social ou político até aí maioritariamente feito entre nós: agora, a História fala através do “aqui e agora” da experiência e das interrogações da autora e daqueles que filma. Por um lado, estamos assim para lá de uma fronteira no modo de conceber o documentário que, agora sim, foi ultrapassada (no fundo, a religação ao percurso do cinema internacional nesta área, cuja revolução do “cinema direto” tão pouco, ou tão dificilmente, tinha marcado o cinema português). Por outro, estamos perante uma boa demonstração de como este salto não se converte em qualquer nova ortodoxia, o que se pode ver por exemplo no uso da voz off, que, como em alguns outros filmes deste grupo, é, “apenas”, reinventada.
[Fonte: Cinemateca Portuguesa]
[Fonte: Cinemateca Portuguesa]