Um homem triste e contido deitado na cama do seu quarto vazio. Hesita, pondera hipóteses em ciclo sem se decidir. Está preso. Na exaustão todas as angústias se equivalem. Outro homem sentado à janela: olha-o a ele e à rua. Personagens em situações interrompidas. Mostram-se as posições-chave, as sequências suspensas. O homem quase se decide – e quase regressam, dentro e fora, para si e para a cidade, o tempo e o movimento. Madrugada infinita.

"NOTA DE INTENÇÕES
Interessa-me neste filme explorar o momento da indecisão, com as suas tensões próprias. É um momento dramaturgicamente delimitado em que não existe propriamente acção, no seu sentido geral. A acção e o tempo parecem suspender-se. O desafio é dar corpo (imagem, movimento, som, duração, textura, etc.) a este estado que é tão singular quanto comum, com as suas micro-acções, mentais ou emocionais, as suas intermitências de vontades e medos, os seus ciclos que impedem uma resolução e as suas fantasmagorias. No limite, a duração deste filme seria indefinida – essa é, pelo menos, a sensação que deve perdurar no seu fim."
[Fonte: Luís Soares]