Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço (1971)
He goes long barefoot that waits for dead men’s shoes
33 min
Realização: · João César Monteiro
Argumento: · João César Monteiro
[This is a dense film, as convoluted as a shell. To misquote Rimbaud we might say that the “real film is elsewhere”. What the producer has tried to film is not so much the film itself as its reflection, darkly, as if throught a mirror. Facing the mirror, then, Monica, through reflected words, reveals her tactics in the revelation of Lívio’s tactics and frees herself through words. Here words are a moral choice, conscience laid bare, the assumption of truth. Monica’s look (or that of her double) at a Lívio absent and out of the picture (the real film takes place off, quite apart from the illusion of the screen), forms part of a flow of fascination and repulsion which continually rules her inner dialogue. The aiscovery of her look? The discovery of the film itself, of course.
A transparent film, as open as a flying bird. Let us seek some other way of diagnosing its mysterious, vague movement.
What is it all about, after all?]
Apoio Financeiro: · Fundação Calouste Gulbenkian
Argumento: · João César Monteiro
Assistente: · Margarida Soromenho · Solveig Nordlund · Óscar Cruz · Jorge Silva Melo
Direcção de Produção: · Jorge Silva Melo
Direcção de Som: · Alexandre Gonçalves
Fotografia: · Acácio de Almeida
Montagem: · João César Monteiro
Música: · Anton Webern [não creditado] · José Alberto Gil
Produção: · João César Monteiro
Realização: · João César Monteiro
Parafraseando Rimbaud, é necessário dizer que le vrai film est ailleurs.
O que se pretende filmar não é tanto o filme mas o seu reflexo. Obscuramente, como num espelho.
É, portanto, face a um espelho que Mónica, através da palavra reflectida, desmascara o seu jogo ao desmascarar o de Lívio e, pela palavra, ela liberta-se.
Aqui, a palavra é opção moral, consciência nua, assunção da verdade.
O olhar de Mónica (ou do seu duplo) em direcção a um Lívio ausente é expulsado da imagem (o verdadeiro filme está off-off, para lá da ilusão do ecrã) e insere-se num movimento de fascínio e de repulsa que organiza continuamente o seu debate interior.
A descoberta do seu olhar? A descoberta do próprio filme, of course.
Filme transparente, aberto como um pássaro a voar.
Ensaiemos uma outra maneira de auscultar o movimento vago e misterioso.
De que se trata, no fim de contas?
[João César Monteiro]