Fragmentos de um Filme-Esmola - A Sagrada Família (1975)
Produção Rodagem: 1972/73
N/C
72 min
Realização: · João César Monteiro
Argumento: · João César Monteiro
[Maria works in a German umbrella factory as the foreman of the production sector. João Lucas has given up on living a normal life and practically lives in bed, in the midst of green plants. His father expressly desired that his son film this eccentric daily life in 8 mm format.
Maria’s wages are dilapidated to the last penny by this amateur, monstrous, family movie production. “It is perhaps the only rage-filled Portuguese film. The formal depuration is extreme and corresponds to an equally extreme thematic depuration, if it makes any sense to separate the one from the other in a film, above and beyond limits like these. All that is asked of the actors is that they be actors, which is the most difficult thing to ask, since it means not giving them anything in return.]
Anotação: · Quenina
Argumento: · João César Monteiro
Assistente: · Solveig Nordlund
Assistente de Realização: · Margarida Gil
Decoração: · João Luís [Adereços]
Diálogos: · João César Monteiro
Direcção de Produção: · Henrique Espírito Santo
Direcção de Som: · João Diogo
Electricista: · Carlos Mena
Fotografia: · Acácio de Almeida
Iluminação: · João Silva (V) [Chefe]
Locução: · Luís Miguel Cintra
Montagem: · João César Monteiro
Música: · Wolfgang Amadeus Mozart · Stockhausen
Produção: · CPC
Realização: · João César Monteiro
Texto: · Francis Ponge · James Joyce · Ésquilo · André Breton
João Lucas, que cortou relações com a chamada vida activa, vive literalmente na cama, rodeado de vegetais.
A criança filma em 8 mm, por vontade expressa do pai, este quotidiano um pouco excêntrico.
Deve pensar-se que este décor funciona duplamente como habitação e estúdio cinematográfico, sendo as fontes de iluminação, as mais das vezes, visíveis e as mesmas para ambos os filmes.
Os ganhos de Maria são devorados até ao ultimo cêntimo pela monstruosa produção cinematográfica, dita familiar e de amador.
"Chama-se este filme A SAGRADA FAMÍLIA, mas infelizmente nada tem a ver com a crítica aos novos hegelianos. Tem, quanto muito (e já não é mau), a ver obscuramente consigo próprio - ein kleines musikspiel - e, vá lá, com um faseado temor apocalíptico que, sintomaticamente, o localiza como produto da má formação católica do autor, um acagaçado esquizoide sem eira nem voz, como convém ao bom tempero das cordas sensíveis e à higiénica preservação dos lugarejos comuns de tónica soi-disante progressista, melhor ou pior tolhida pela chamada elefantíase cultural.
Por outras palavras (as do Bantôme), sou pela virtude da bela perna e pela beleza que ela tem.
Senhores: em boa verdade, quero que o filme se lixe e os senhores idem, com ou sem ele.
O filme vai andando a 24 imagens por segundo. Eu é que já não ando nem desando."
[César Monteiro, in &etc nº4, 28 de Fevereiro de 1973]