Série de documentários, sendo os números 1 e 2 dedicados a Angola
" O documentário começa dando enfoque ao desenvolvimento económico, referindo que é quatro vezes superior ao britânico e o maior em África. A questão racial é comentada afirmando-se que há uma política não racista embora as diferenças de nível de vida ainda sejam lamentáveis. Acrescenta-se que, na última década, a diferença diminuiu – a imagem que o ilustra é a de brancos e pretos a entrar, sem distinção, para autocarros. Sustenta-se que, se o cenário multirracial não é tão idílico como a propaganda mostra – e deste modo procura demarcar-se da propaganda oficial do regime como se não fosse também financiado pela ditadura portuguesa –, o facto é que ele existe, apoiado pela classe baixa e média, maioritárias. O Brasil – a maior comunidade multirracial do mundo, diz-se – surge, depois, como o grande argumento a favor de Portugal. Documentação existente no AHD comprova que a abordagem das relações entre Portugal e o Brasil foi visada como central neste projecto embora acautelando susceptibilidades:
No filme a realizar não se deveria apenas focar o paralelismo existente entre o Brasil e a África Portuguesa sendo necessário pôr igualmente em evidência os numerosos pontos de contacto do Brasil com a Metrópole e isto no intuito de não susceptibilizar o público brasileiro.
Africarama nº 2 afirma que a população se manteve, em geral, indiferente à propaganda dos movimentos subversivos vindos de fora e que o governo prometeu uma melhor distribuição das responsabilidades administrativas quando as universidades produzirem pessoas qualificadas suficientes. Sobre o crescimento industrial, assume-se que políticas de trabalho e sindicalismo são ainda, talvez, paternalistas mas que, em contrapartida, são os mais desenvolvidos de África.
Sem o fado mas com Fátima e futebol. Assim são organizados os eixos relativos aos tempos livres e à espiritualidade da população em Angola. Afirma-se que a guerrilha se mantém fora das fronteiras e que a comunidade dedica-se aos prazeres iguais aos de outros países – como o futebol. Sublinha-se um suposto “fenómeno português”: o do sucesso de cinco séculos de presença portuguesa, uma retórica decalcada do luso-tropicalismo freyriano.
A questão económica é retomada depois, com a agricultura como actividade dominante mas também a nova exploração de petróleo em Cabinda. As vias de transporte e as barragens são comentadas ainda antes da evocação das universidades criadas desde há uma década. “Portugal está convencido que a educação é o único modo de obter a integração racial”, afirma-se. Explica-se ainda que para votar é preciso ter a quarta-classe logo antes de reconhecer-se que só há um partido e sugerir que “a liberalização política é sempre possível”.
[Fonte: Maria do Carmo Piçarra, O império contra-ataca: a produção secreta de propaganda feita por estrangeiros para projecção internacional de “Portugal do Ultramar”
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-54622016000200004 ]
" O documentário começa dando enfoque ao desenvolvimento económico, referindo que é quatro vezes superior ao britânico e o maior em África. A questão racial é comentada afirmando-se que há uma política não racista embora as diferenças de nível de vida ainda sejam lamentáveis. Acrescenta-se que, na última década, a diferença diminuiu – a imagem que o ilustra é a de brancos e pretos a entrar, sem distinção, para autocarros. Sustenta-se que, se o cenário multirracial não é tão idílico como a propaganda mostra – e deste modo procura demarcar-se da propaganda oficial do regime como se não fosse também financiado pela ditadura portuguesa –, o facto é que ele existe, apoiado pela classe baixa e média, maioritárias. O Brasil – a maior comunidade multirracial do mundo, diz-se – surge, depois, como o grande argumento a favor de Portugal. Documentação existente no AHD comprova que a abordagem das relações entre Portugal e o Brasil foi visada como central neste projecto embora acautelando susceptibilidades:
No filme a realizar não se deveria apenas focar o paralelismo existente entre o Brasil e a África Portuguesa sendo necessário pôr igualmente em evidência os numerosos pontos de contacto do Brasil com a Metrópole e isto no intuito de não susceptibilizar o público brasileiro.
Africarama nº 2 afirma que a população se manteve, em geral, indiferente à propaganda dos movimentos subversivos vindos de fora e que o governo prometeu uma melhor distribuição das responsabilidades administrativas quando as universidades produzirem pessoas qualificadas suficientes. Sobre o crescimento industrial, assume-se que políticas de trabalho e sindicalismo são ainda, talvez, paternalistas mas que, em contrapartida, são os mais desenvolvidos de África.
Sem o fado mas com Fátima e futebol. Assim são organizados os eixos relativos aos tempos livres e à espiritualidade da população em Angola. Afirma-se que a guerrilha se mantém fora das fronteiras e que a comunidade dedica-se aos prazeres iguais aos de outros países – como o futebol. Sublinha-se um suposto “fenómeno português”: o do sucesso de cinco séculos de presença portuguesa, uma retórica decalcada do luso-tropicalismo freyriano.
A questão económica é retomada depois, com a agricultura como actividade dominante mas também a nova exploração de petróleo em Cabinda. As vias de transporte e as barragens são comentadas ainda antes da evocação das universidades criadas desde há uma década. “Portugal está convencido que a educação é o único modo de obter a integração racial”, afirma-se. Explica-se ainda que para votar é preciso ter a quarta-classe logo antes de reconhecer-se que só há um partido e sugerir que “a liberalização política é sempre possível”.
[Fonte: Maria do Carmo Piçarra, O império contra-ataca: a produção secreta de propaganda feita por estrangeiros para projecção internacional de “Portugal do Ultramar”
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2183-54622016000200004 ]