Juventude em Marcha (2006)
Colossal Youth
155 min
Realização: · Pedro Costa
Argumento: · Pedro Costa
[(...) In this heavily stylized production, the dazed, unreliable and somehow majestic Ventura has set about finding and gathering his "children"—a collection of grown-up townspeople, Vanda included, who depend in some way on the older man's wisdom. The film's centerpiece is a love letter dictated by Ventura to an illiterate, heartbroken young friend; the letter gets repeated around ten times, gaining, losing, then earning back its totemic significance. If the letter can never be written down, then the recitation must keep the sentiment alive. Part Odyssey, part John Ford western, Colossal Youth contends that the men and women of Fontainhas are not only worthy of narrative representation but also heroes of a complicated epic history. (The film's Portuguese title translates as "Youth on the March," echoing an old revolutionary slogan, and the plot refers obliquely to Portugal's leftist military coup of April 1974.) Was not Odysseus' saga also one of migration and displacement, passed down as a remembered poem from generation to generation? Ventura, who at the beginning of the film is exiled from his home at knifepoint by his wife, Clotilde, "or a woman who looked just like her," is constantly confusing names and identities, as the albatross of historical memory threatens to slip from around his neck. (...)
[Source: Akiva Gottlieb, A Cinema of Refusal: On Pedro Costa, 2010]]
Mais informações: Website externo
Argumento: · Pedro Costa
Fotografia: · Leonardo Simões · Pedro Costa
Montagem: · Pedro Marques
Montagem de Som: · Nuno Carvalho
Música: · Os Tubarões · György Kurtág
Produção: · Contracosta Produções
Produtor: · Francisco Villa-Lobos
Realização: · Pedro Costa
Som: · Olivier Blanc
A 15 de Julho de 1944, Robert Desnos escreveu à mulher do campo de concentração de Flöha uma última carta, a cerca de um ano da sua morte.
Diz que lhe queria oferecer "100 000 cigarros louros, doze vestidos de grandes costureiros, o apartamento da Rua de Seine, um automóvel, a casinha da mata de Campiègne, a de Belle-Isle e um raminho de flores de cinco tostões. Na minha ausência, compra à mesma as flores, que eu tas pagarei. O resto, prometo-o para mais tarde. Mas, acima de tudo, bebe uma garrafa de bom vinho e pensa em mim." Ventura em Juventude em Marcha diz e rediz ao filho para que este nunca mais a esqueça, a carta que escreveu há trinta anos: "Eu gostava de te oferecer cem mil cigarros/ uma dúzia de vestidos daqueles mais modernos/ um automóvel/ uma casinha de lava que tu tanto querias/ um ramalhete de flores de quatro tostões/ mas antes de todas as coisas/ Bebe uma garrafa de vinho bom/ Pensa em mim." "Para contar o amor e o sofrimento do Ventura foi preciso ouvir o amor e o sofrimento de um poeta francês."
Nem Desnos nem Ventura reencontraram as mulheres. Nem Desnos nem Ventura receberam sequer resposta a essas cartas. Nem Desnos nem Ventura verão as mulheres que amaram com os vestidos que sonharam. Em lugar de tudo isso ficou aquele plano fantomático com que começa Juventude em Marcha, onde, para o saguão negro de uma ruína negra, uma mulher (a mesma? outra?) atira janela fora os restos dos pertences do marido. "Julgo que vou esquecer de mim" é a última linha da carta de Ventura. Não se esqueceu, na enganadora aparência da memória. Mas esqueceu-se no corredor escuro. De cor que era ao tempo d 'O Sangue, o negro volveu-se na ausência de toda a luz. Sobreviver é repetir incessantemente uma carta de amor ou, como Vanda, repetir incessantemente a história do dia em que deu à treva a filha.
Cá fora, no extremo de outro espectro da cor, uma cadeira encarnada, tão antiga como a carta e tão sem eco como ela. O negro é uma cor? De que cor é então o estado do mundo que, com outros cineastas, ele trajou em 2007, sob forma da caça ao coelho com pau?
Não o sei e não sei se Pedro Costa o sabe. Sei é que essa cor é a cor que nos circunda, nos novos desertos em que os quartos se perdem e as juventudes se fixam.
[Fonte: João Bénard da Costa, O Negro É Uma Cor: ou o cinema de Pedro Costa, 2010]