"Se me pudesses ver agora", desenha o aparo da caneta no papel rugoso, enquanto o sobrado do solar reflecte os pés descalços de Conceição e as pernas alvas que se entreabrem.
No cemitério o sangue escorre sobre a tez negra do homem que sucumbe à agressão, mal conseguindo pronunciar as suas últimas palavras: "Era bom para a terra!"…
Conceição larga uma ponta da toalha e descobre o corpo molhado para os olhos do marido. Quando a pá do coveiro ataca a terra, ressalta como se batesse em pedra. Os cânticos do cortejo fúnebre morrem, homens e mulheres dispersam temerosos e fogem.
No solar, Conceição sai da cozinha e descobre o marido morto sobre a mesa do jantar.
Tanto mal resolvido e sonhos por concretizar, entre o Porto e Maputo, entre o Douro e o Incomáti não cabem no ser humano.
A não ser que a vontade seja mais forte que as circunstâncias, a paixão se sobreponha ao preconceito, a nova visão das coisas vença a teia que o dinheiro fácil tece, e o que está longe se deixe chegar ao alcance da mão de quem sabe porque a dá.