Our Madness (2018)

Produção 2015

N/C

90 min

Docuficção  

Realização:  ·  João Viana

Argumento:  ·  João Viana

Estamos no hospital psiquiátrico de Infulene. Ali conhecemos Ernania, uma paciente, jovem mulher, já traumatizada pelo passado. Uma porta aberta permite-lhe uma fuga. Ernania procura o seu filho, o marido que também perdeu (por isso enlouqueceu ela?), estamos na Maputo de hoje, isso é claro, e no entanto há aqui aviões figurados em camas de hospital que tentam descolar, muros altos que são os da história do colonialismo português e um argumento em que os diálogos, permeáveis à poesia, são com frequência enigmas, com elipses poderosas na estrutura, foras de campo em que se passam coisas inexplicáveis — “e tudo isso faz muito parte de África, a loucura — que é um tema caro para mim —, a morte que nos rodeia por todos os lados, e ao mesmo tempo um hino à vida, que passa muito pelas mulheres”, contou-nos Viana em Lisboa. O cineasta percorreu Moçambique de sul a norte. “Estava a viajar sozinho, num autocarro, já tinha passado Inhambane. O condutor aconselhou-me a ir para trás, questão de segurança... Digamos que a fronteira entre a lucidez e a loucura é fácil de ultrapassar ali. Era o único branco no autocarro, já na escola em Angola o era, estou habituado...
Mas esta história perturbou-me, fez-me pensar na origem da violência, nesta África eternamente ensanguentada. África é preta e vermelha, os homens fazem a caça, as mulheres a civilização.
O filme nasce de tudo isto, daquela viagem em que eu já procurava um filme sem saber que filme iria fazer.” O que nos espera em “Our Madness”? Uma ficção, como já se sugeriu, rarefeita, em que, também aqui, partimos com Erminia, prisioneira do seu trauma, rumo a norte, para a evocação de outros tempos, para torturas de hoje que são as mesmas de ontem (há uma altura em que o filme se refere aos massacres de Alabama, Guernica, Auschwitz, continuando a ‘linhagem’ por Batepá, Moncada, Shaperville...). Ritualização da história. Ritualização da morte. “Our Madness” é um filme em que a realidade começa a entrelaçar-se na sua própria maldição. E é um triunfo para João Viana, que expressa as obsessões já lançadas em “A Batalha de Tabatô” com um poder de síntese e uma capacidade de sugestão muito superiores às daquele.
[Fonte: Francisco Ferreira, Revista Expresso de 19-02-2018]

[The voiceover says at the outset that a madhouse can be different things at different times: slavery, civil war, a puppet regime. Today, it’s a psychiatric hospital in Maputo, bright walls without, dark corridors within, both accentuated by the crisp black and white. Ernania is a patient there, she coaxes music from her bed so enchanting it could carry you away. When the gate is left open one day, she seizes her chance and a journey begins. But the path doesn’t proceed from A to B, but rather from one beguiling location to another, each flowing into the next with logic of a trance: a recording studio, a cinema full of goats, a boat on a tilt on the mudflats. Ernania was always looking for her husband and son and finds them with ease, but somehow they disappear again at will, just like the other strange objects she stumbles across, the aeroplane fashioned from a hospital bed or the statue of wire. When Ernania and her son stare at the sun, they see the whole continent before them, a terrain, like the film, as rich in references and allusions as a dream. The voiceover also says escape lies in dreams, but that was in the past. Today, it’s in your dreams that they sense you’re there.
[Source: Berlinale]

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Dados Técnicos:
P/B e Cor |

Outras informações:
Um projecto que retrata a realidade política e social de Moçambique. Foi um dos 15 projectos seleccionados, em 2015, para o Cinefondation Atelier do Festival de Cannes, importante atelier que apoia realizadores com projectos inovadores, dando-lhes oportunidades de encontrar co-produtores internacionais.
Festivais e Prémios:
# 2018 - Berlinale, Forum
# 2018 - IndieLisboa, Competição Nacional - Prémio Allianz para Melhor Longa Metragem Portuguesa