Leitão de Barros



Nome completo: José Júlio Marques Leitão de Barros

Nasceu: 1896-10-22 · Morreu: 1967-06-29

Local de nascimento: Porto
Local de óbito: Lisboa
Nacionalidade: Português
Sítio internet: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Leit%C3%A3o_de_Barros
Dados adicionais:

Formação: Escola de Belas-Artes, 3.º ano de Arquitectura; Faculdade de Ciências e Letras de Lisboa (cadeiras para o exercício do magistério secundário); Curso da Escola Normal Superior da Universidade de Lisboa.
- - # - - Foi professor dos liceus (nas disciplinas de Desenho e Matemática); pintor a óleo e aguarelista distinguido e premiado a nível nacional e internacional; jornalista, a partir de 1916, colaborando em jornais como Correio da Manhã, A Capital, Imprensa da Manhã, A Noite, ABC, com artigos, crónicas, entrevistas e críticas de arte; autor de peças de teatro (30HP, O ramo das violetas, O Homem que passa - título que adoptou como pseudónimo para assinar alguns dos seus textos críticos, Um actor à volta de seis papéis, entre outras). Colaborou como autor e cenografista de teatro declamado e teatro de revista e em 1955 recebeu o Prémio Gil Vicente, atribuído pelo SNI.
Ainda jovem, quando frequentava o liceu Pedro Nunes, conheceu Cottinelli Telmo, Reis Santos (que o viria a convidar para dirigir os primeiros filmes da Lusitânia Filme), Cristino da Silva (que viria a ser um arquitecto muito querido do regime), e Martins Barata (que se afirmaria como ilustrador). Antes ainda de acabar os estudos liceais, frequenta os chás literários, onde conheceria Fernanda de Castro e António Ferro.
Tendo feito um estágio de Artes Gráficas e Fotografia na Alemanha, introduziu a rotogravura em Portugal e fundou, em Lisboa, a Neogravura Ld.ª. Fundou o semanário Domingo Ilustrado, que daria origem a O Notícias Ilustrado, editado pela empresa Diário de Notícias e que foi suspenso pelos Serviços de Censura, em 1935. Cinco anos depois de fundar o Domingo Ilustrado, passou a desempenhar o cargo de Director de O Século Ilustrado, cargo que exerceu até 1940.
Foi Director da Sociedade Nacional de Belas Artes.
-. - # - - Iniciou a carreira no cinema em 1918, juntando-se ao famoso grupo da Lusitânia Film que o convidou para rodar os primeiros filmes de ficção da empresa.
Como representante dos produtores, enquanto director da produção da SUS – Sociedade Universal de Superfilmes, fez parte da Comissão que, em 1930, estudou e apresentou ao Ministério do Interior (Inspecção-Geral dos Espectáculos) a proposta de criação de um estúdio para a produção de fonofilmes e para a resolução do “problema cinematográfico nacional”.
Introduziu o falado (ou o chamado sonoro) nos filmes portugueses, com «A Severa». Foi um grande animador do movimento que conduziu à criação da Tobis Portuguesa.
Implementou a tradição das marchas populares de Lisboa e promoveu a criação da Feira Popular de Lisboa. Propôs ainda, concebeu ou dirigiu célebres festejos e cortejos históricos, como: O Cortejo das Viaturas (1934); o Cortejo da Embaixada do Século XVIII (1936); o Cortejo Medieval e o Torneio Medieval dos Jerónimos (1938); as Festas Centenárias (1940); a Exposição do Mundo Português (1940) e o Cortejo Histórico das Festas Centenárias de Lisboa (1947).
"Provavelmente, a seguir a Manuel de Oliveira, o mais famoso dos cineastas portugueses. Talento de muitas facetas, (também cronista, plástico e dramaturgo), quase sempre os seus filmes relevam de uma extrema preocupação pictórica em detrimento de outras quaisquer componentes e não raro resvalando para um certo estatismo. As visitas aos estúdios de Berlim, e principalmente Moscovo, nos anos 20 tê-lo-ão marcado profundamente: daí o seu interesse pelos actores não profissionais ou um estilo de composição da imagem reminiscente do cinema soviético da época (o que levaria alguns a falarem do seu «russismo»...). Influências assumidas muito exteriormente (como não podia deixar de ser dados os seus parâmetros ideológicos, vincadamente conservadores), elas encontram, ainda assim, um desenvolvimento curioso nos filmes «de pescadores» que empreendeu: Nazaré, Maria do Mar e Ala-Arriba, com todas as limitações que se lhes ponham, são os únicos, conjuntamente com os de Manuel de Oliveira ou com A Canção da Terra, de Brum do Canto, que têm a ver com os problemas reais do País ao longo das décadas de 30 e 40. Inversamente, os seus filmes «históricos» ou de «reconstituição» mais não são do que tentativas de criação de espaços míticos, por vezes visualmente sumptuosos. Se A Severa, para além de ser o primeiro filme sonoro português, pouco mais terá a recomendá-lo que a música de Frederico de Freitas, já As Pupilas do Senhor Reitor é aliciante no seu respeito ao universo plástico de um aguarelista como Roque Gameiro. Mas os mastodônticos e mais famosos Inês de Castro e Camões (provavelmente a mais cara produção nacional de sempre...) só intermitentemente são conseguidos neste campo, mal-grado a sequência do beija-mão da rainha morta ser um dos trechos mais brilhantes de todo o cinema português."
“Não são as superproduções históricas (Bocage, Camões, Inês de Castro) – que tanto relevo público lhe deram – as que mais resistem. Antes é o cronista de Lisboa, crónica anedótica, o rasgado olhar de Maria do Mar ou mesmo o humor naïf de Maria Papoila que nos dizem que Leitão de Barros foi um cineasta de mérito, bem menos que o que diziam as comendas oficiais, bem mais do que a pompa e a retóricas dos seus dramas históricos deixam supor”
[Jorge Leitão Ramos; 1989: 48].
- - # - - Leitão de Barros afirmou-se pelo seu dinamismo, pelo forte sentido empreendedor e pelo não menos forte sentido de espectacularidade. Dele se disse: “até que Leitão de Barros se decidiu voltar ao cinema, logo agitando o meio com o seu infalível sentido do reclame, com que sabia rodear todos os empreendimentos em que se metia, conseguindo, como ninguém, fazer crescer água na boca do público.” [Santos; 1996: 17]
- - # - - “Leitão de Barros é um homem da imagem. (…) Só um homem da imagem percebe que a história é para viver no presente e não para ilustrar qualquer coisa que fica lá longe no passado em relação ao qual se fala. [Leitão de Barros] Pertence a uma geração que descobre a imagem e a eficácia que ela pode efectivamente ter (…) imagem das coisas que satisfazia imediatamente uma curiosidade (…) a descoberta das coisas pela imagem. Nesse momento a grande curiosidade é o cinema. Ele foi um homem de imagem, que é o que significa cineasta. (…) Homem de crença, ele acreditava no poder da imagem e graças a isso pôde impor um discurso visual deixando de lado ou fazendo cair os discursos habituais. Nesse sentido o Estado Novo, Ferro, pôde aproveitar justamente a sua capacidade de poder transmitir uma realidade com imagens, praticamente sem necessitar das palavras como suporte delas, e António Ferro viu isso cedo, e muito bem, e acabou por financiar alguns dos seus filmes através do SPN. [Leitão de Barros] era independente pelo seu próprio carácter, discreto, indisciplinado mas muito obstinado. (…) Leitão de Barros, António Lopes Ribeiro, Cristino da Silva são criadores que o Estado Novo se serviu deles e que, no caso de Leitão de Barros, foi pena até não se ter servido melhor ou mais, na medida em que a obra de Leitão de Barros é melhor que o Estado Novo” [Margarida Acciaiuoli; 2003]

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