Nome completo: Julião Manuel Tavares Sena Sarmento
Nasceu: 1948-11-04 · Morreu: 2021-05-04
Local de nascimento: Lisboa
Local de óbito: Lisboa
Nacionalidade: Português
Sítio internet: https://www.youtube.com/watch?v=gP6qSCZe0vY
Dados adicionais:
Frequentou o curso de arquitetura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa entre 1967 e 1974.
A sua carreira artística inicia-se na década de 1970. Será marcada por influências culturais predominantemente anglo-saxónicas e por uma lúcida sintonia com correntes avançadas da arte internacional. Em 1977 (o ano seguinte ao da sua primeira exposição individual, realizada na Sociedade Nacional de Belas Artes) participa na Alternativa Zero, exposição que marca "o primeiro balanço dos trabalhos que em Portugal tomaram como referência as atitudes concetuais e congéneres".
Nessa primeira etapa utiliza meios de expressão diversificados, "postos à disposição dos artistas da década pela revolução das linguagens técnicas e conceptuais". Vemo-lo realizar pinturas, filmes, colagens de materiais heteróclitos, montagens fotográficas ou encenações de textos onde coloca em jogo elementos que se tornarão "essenciais à caracterização da totalidade do [seu] discurso artístico".[4] Sarmento utiliza dispositivos que vão da apropriação de imagens e citações literárias à fragmentação das formas, pondo-os ao serviço de um discurso plástico onde as noções de tempo, de desejo, ou a pulsão erótica, são determinantes, criando elos que unem as fases sucessivas da sua obra: "Aquilo que faço hoje faz parte do que fiz ontem", disse Sarmento em 1997, "e do que fiz há vinte anos, e do que farei amanhã".
A propósito das obras da década de 1970 (onde se enunciam já alguns dos princípios geradores do seu trabalho futuro), João Pinharanda afirma: "Se numas peças a questão do Desejo é tão evidente que se abstratiza [...] , noutras permanece oculta. Em todas, porém, é axial. Já o Tempo se revela claramente em todas elas. […] As montagens em loop não iludem a radical temporalidade linear do som e da imagem em movimento porque são suficientemente compactas para nos parecerem ações rituais (ou seja, infinitamente repetíveis). Mas são, de facto, as sequências fotográficas […] ou foto-textuais […] e as instalações […] que melhor garantem a convocação dessa dimensão".
No início da década de 1980 Julião Sarmento acompanha a mudança de paradigma – frequentemente associada ao conceito de pós-modernismo –, que determina o «regresso à pintura» (figurativa, de pendor expressionista); e participa na exposição coletiva que, em território nacional, assinala essa inflexão: Depois do Modernismo, SNBA, Lisboa, 1983[2]. A sua pintura torna-se num recetáculo de imagens e modos de pintar heterogéneos (veja-se, por exemplo, Mehr Licht, 1985). Irá gerir "um referencial muito diversificado conjugando citações ora populares ora eruditas. […] O efeito produzido por essa sobreposição remete sobretudo para dois universos, o da literatura e o do cinema, que funcionam como eixos estruturantes da sua obra. […] As suas pinturas confrontam fragmentos, imagens de glamour e de violência, com a palavra que aparece como uma indicação ou aviso, explorando a imagética do inconsciente e o caráter inquietante do intermitente em representação".[6] É nesta fase que participa em duas edições sucessivas da Documenta de Kassel (1982 e 1987), o que terá impacto significativo na sua carreira internacional.
A partir do final da década de 1980 a sua pintura altera-se, "torna-se mais sóbria e contida, adotando uma depuração quase monacal. É o período das Pinturas Brancas, em que predomina o desenho a grafite sobre fundo branco", onde os corpos quase se desmaterializam, reduzindo-se muitas vezes a fragmentos sugeridos por suaves linhas de contorno, e onde o vemos centrar-se na representação do feminino, que transporta agora "para um novo patamar de subtileza e insinuação".[6] Captando instantes e aspetos fragmentários, ocultando e gerindo intermitências, as suas formas genéricas de mulher (ou de outros personagens) evitam o "retrato e qualquer forma de referência direta. […] Julião trabalha a distância entre os corpos, entre as palavras, as imagens e as repetições. O corpo caído, entrevisto, parcialmente descoberto […] , pernas, saias, mesas, braços presos por cordas […] boca amordaçada, auto-estrangulamento, troncos de mulher, rasgões no vestido, um murro na garganta". "A figura quase nunca tem rosto e está quase sempre vestida […]. A sua situação e as suas ações são sempre ambivalentes, muitas vezes violentas; as linhas divisórias entre prazer e dor […] tornam-se indistintas". A 9 de junho de 1994, foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[9] É nesta fase, mais especificamente em 1997, que, nas palavras do crítico de arte Alexandre Melo, se dá a sua "plena consagração nacional ao representar Portugal na Bienal de Veneza".
Trabalhando com galerias de renome em Lisboa, Porto, Londres, Berna, Madrid, Barcelona, Munique, Torino, Bruxelas, Nova Iorque, Beverley Hills, São Paulo ou Nagoya, Julião Sarmento construiu uma sólida carreira internacional. A sua obra foi alvo de revisões globais em Witte de Witte (Roterdão, 1991), Centro de Arte Reina Sofia (Madrid, 1992), Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa, 1993, 2000). Em 2011 a Tate Modern, Londres, instalou um Artist Room com obras suas. Em 2012-2013, o Museu de Serralves, Porto, organizou Noites Brancas, a mais completa retrospectiva até hoje realizada do seu trabalho e que lhe mereceu, em 2014, a atribuição do Prémio AICA 2012.
[Fonte: Wikipedia]
" ... Olhando particularmente para Julião Sarmento, o que me cativa nas suas obras são as inúmeras citações e referências provenientes do cinema e da literatura, bem como, e sobretudo, a recorrente promiscuidade entre cinema e pintura.
A relação de Sarmento com a linguagem cinematográfica está presente não apenas nos seus filmes experimentais, mas também nos variados meios utilizados pelo artista: da pintura, fotografia e desenho à montagem de imagens e texto.
Alguns dos seus filmes em Super 8 perderam-se, principalmente os filmes realizados entre 1967 e 1973. Sarmento trabalhou em filmes curtos, com a capacidade de uma bobina – cerca de três minutos –, e em filmes longos, resultado da montagem dos filmes de três minutos. Entre os filmes longos, encontra-se Sombra, mas também Cópias e Faces, todos realizados em 1976... "
[Fonte: Patrícia Rosas - Museu Gulbenkian]