Produtora
O início: O produtor portuense Alfredo Nunes de Matos tinha a sede de uma modesta empresa, fundada em 1910, no nº 135 da rua de Santo Ildefonso, no Porto. Em 1912 muda-se para uma dependência do Jardim Passos Manuel, dando à firma o nome de "Nunes de Matos & Cia – (Invicta Film)".
Produz «panorâmicas», documentários de propaganda comercial, industrial e de actualidades. Vários deles são exibidos em Portugal e no estrangeiro. É fornecedor de jornais nacionais para firmas tão importantes como a Pathé e a Gaumont, sociedades francesas com um papel determinante na distribuição e exibição de filmes na França e no mercado internacional. É o caso de alguns filmes de particular significado, como as Manobras Navais Portuguesas ou as Grandes Manobras de Tancos (1912, exercícios de preparação do exército português para eventuais conflitos) ou ainda O Naufrágio do "Veronese" (imagens de um desastre marítimo ocorrido em frente da Boa Nova, em Leça da Palmeira, perto de Leixões, na madrugada de 10 de Fevereiro de 1913). O jornal de actualidades causa sensação em Portugal e no estrangeiro. Desse filme são vendidas mais de cem cópias, para a Europa e Brasil.
Nunes de Matos não se deixa impressionar pela conjuntura desfavorável e é apoiado por um banqueiro optimista, José Augusto Dias, que se mostra sensível às potencialidades do projecto ao qual não deixará de acudir em momentos difíceis.
No dia 10 de Março de 1916, pela boca do barão Rosen, embaixador em Lisboa, a Alemanha declara guerra a Portugal. Por essa altura é grande a turbulência política nacional, agravada pelo envio das primeiras tropas portuguesas para a frente de combate em França.
O contexto não se mostra favorável à implantação de uma indústria de cinema, o que não intimida o invicto empresário. Sendo diversos os temas que filma, avaliando o mercado, prefere assunto «genuinamente e exclusivamente português». E em Portugal temas apelativos não faltam.
Tem como colaboradores técnicos experientes vindos de produtores já conhecidos, alguns dos quais tinham deixado Manuel Maria Costa Veiga, da extinta Portugália Film. Para responsável do laboratório desencanta um aragonês competente, um certo Thomas Mary Rosel.
A reestruturação:
O projecto de Nunes de Matos consolida-se com a adesão de outros interesses, de gente bairrista do Porto, encabeçados pelo banqueiro José Augusto Dias, já a guerra tinha feito muitos mortos. No cartório do notário António Mourão é assinada a 22 de Novembro de 1917 a escritura de uma sociedade por cotas, de responsabilidade limitada, designada como Invicta Film Lda., com o capital de 150.000 escudos, uma quantia muito avultada à época. São sócios umas dezassete importantes personalidades. As cotas vão de cinco a sete contos.
Fazem uma reunião e elegem os corpos gerentes no dia 1 de Dezembro. É decidida nessa reunião a aquisição de duas máquinas de filmar, uma Urban e uma Contenet, um projector dessa mesma marca e outro de marca Pathé, uma bateria de arcos voltaicos, geradores, 20.000 metros de negativos impressionados, enquanto património da firma-mãe, e a patente nº 9394 de uma invenção, registada a 12 de Novembro de 1914, o Cine-Magic. Tratava-se de «um novo processo de reflexão cinematográfica conseguindo que as figuras, em vez de se reflectirem num écran, apareçam isoladas num palco, iludindo por completo a vista, dando a impressão de que são pessoas que se movimentam e não reflexões cinematográficas». Isto é, «um processo em que se tentava obter a terceira dimensão, ou fosse o tão almejado relevo»: a realidade virtual, em suma, umas boas oito décadas avant-la-lettre (M. Félix Ribeiro, em Filmes, Figuras e Factos do Cinema Português). Sendo inquestionável a eficácia do processo mas não sendo prioridade a sua execução, a patente será renovada de dois em dois anos, até 1928, ano em que a Invicta deixará de existir.
Quinze dias depois, em nova reunião, é decidido que, ao serviço da empresa, se desloque ao estrangeiro (França e Itália), o gerente, Alfredo Nunes de Matos, para comprar maquinaria. Entretanto, em 1907, instalara-se ali mesmo ao lado o dono da Fundição Alegria & Cª, empresa do Rio de Janeiro, um retornado português, chamado Henrique Ferreira Alegria. Interessado pela exibição cinematográfica, abrira a 18 de Maio de 1912 o Cinema Olympia, a dois passos do Jardim Passos Manuel. Acaba por ser integrado na nova empresa como director artístico, isto é, como director de produção. Matos e Alegria partem juntos para Paris em meados de Janeiro de 1918. Numa entrevista ao jornal O Século, dada no dia 14 desse mês, Nunes de Matos declara: «Vou em primeiro lugar a Paris e à Itália procurar o que há de melhor, a última palavra em mecanismos. Porque o meu principal intento é emancipar-me de estrangeiros, embora não deixe de concordar que, para começo, é lá que tenho de ir buscar tudo». Deixa também claro que tenciona trazer de lá um régisseur à altura das suas ambições.
Em Paris, junto da Pathé Frères, na Rue de Ravart, obtêm os viajantes «a mais perfeita e amigável compreensão» e, coisa não menos importante, o plano e o projecto das futuras instalações dos estúdios da Invicta Film. Cede-lhes a Pathé também os técnicos de que precisam: um realizador, de nome Georges Pallu, um operador de imagem, Albert Durot, um chefe de laboratório, Georges Coutable e a sua mulher Valentine, montadora de filmes, O casal será mais tarde substituído por outro operador e outra montadora, vindos também da Pathé, J. Trobert e Madame Meunier. É contratado ainda um arquitecto decorador, Albert Durot, depois substituído por Maurice Laumann, também dos quadros da Pathé
O convénio entre as duas empresas é assinado a 17 de Fevereiro. A 12 de Março de 1918 é firmado o contrato de trabalho entre a Invicta Film e Pallu, que se responsabiliza pela escolha dos argumentos com o director artístico, pela sua adaptação para cinema e ainda pela montagem dos cenários. Seria ele também o responsável pela construção do estúdio. O contrato era de um ano, mas a colaboração duraria cinco. É Pallu quem traz para a empresa o realizador Rino Lupo, que será também, com Pallu, um dos dois mais importantes realizadores da Invicta Film.
(...) Não existe rede de distribuição que sirva os interesses da empresa. Os problemas financeiros surgem a partir de meados de 1923. Tenta-se ainda exportar alguns dos filmes já produzidos para o Brasil e Estados Unidos, visando os centros de emigração. Consegue-se vender alguns, mas os resultados são poucos.
A Invicta Film dispensa todo o pessoal da produção a 15 de Fevereiro de 1924, mas mantém o laboratório aberto. Encerra definitivamente a actividade em 1928.
[Fonte: Wikipedia]
O início: O produtor portuense Alfredo Nunes de Matos tinha a sede de uma modesta empresa, fundada em 1910, no nº 135 da rua de Santo Ildefonso, no Porto. Em 1912 muda-se para uma dependência do Jardim Passos Manuel, dando à firma o nome de "Nunes de Matos & Cia – (Invicta Film)".
Produz «panorâmicas», documentários de propaganda comercial, industrial e de actualidades. Vários deles são exibidos em Portugal e no estrangeiro. É fornecedor de jornais nacionais para firmas tão importantes como a Pathé e a Gaumont, sociedades francesas com um papel determinante na distribuição e exibição de filmes na França e no mercado internacional. É o caso de alguns filmes de particular significado, como as Manobras Navais Portuguesas ou as Grandes Manobras de Tancos (1912, exercícios de preparação do exército português para eventuais conflitos) ou ainda O Naufrágio do "Veronese" (imagens de um desastre marítimo ocorrido em frente da Boa Nova, em Leça da Palmeira, perto de Leixões, na madrugada de 10 de Fevereiro de 1913). O jornal de actualidades causa sensação em Portugal e no estrangeiro. Desse filme são vendidas mais de cem cópias, para a Europa e Brasil.
Nunes de Matos não se deixa impressionar pela conjuntura desfavorável e é apoiado por um banqueiro optimista, José Augusto Dias, que se mostra sensível às potencialidades do projecto ao qual não deixará de acudir em momentos difíceis.
No dia 10 de Março de 1916, pela boca do barão Rosen, embaixador em Lisboa, a Alemanha declara guerra a Portugal. Por essa altura é grande a turbulência política nacional, agravada pelo envio das primeiras tropas portuguesas para a frente de combate em França.
O contexto não se mostra favorável à implantação de uma indústria de cinema, o que não intimida o invicto empresário. Sendo diversos os temas que filma, avaliando o mercado, prefere assunto «genuinamente e exclusivamente português». E em Portugal temas apelativos não faltam.
Tem como colaboradores técnicos experientes vindos de produtores já conhecidos, alguns dos quais tinham deixado Manuel Maria Costa Veiga, da extinta Portugália Film. Para responsável do laboratório desencanta um aragonês competente, um certo Thomas Mary Rosel.
A reestruturação:
O projecto de Nunes de Matos consolida-se com a adesão de outros interesses, de gente bairrista do Porto, encabeçados pelo banqueiro José Augusto Dias, já a guerra tinha feito muitos mortos. No cartório do notário António Mourão é assinada a 22 de Novembro de 1917 a escritura de uma sociedade por cotas, de responsabilidade limitada, designada como Invicta Film Lda., com o capital de 150.000 escudos, uma quantia muito avultada à época. São sócios umas dezassete importantes personalidades. As cotas vão de cinco a sete contos.
Fazem uma reunião e elegem os corpos gerentes no dia 1 de Dezembro. É decidida nessa reunião a aquisição de duas máquinas de filmar, uma Urban e uma Contenet, um projector dessa mesma marca e outro de marca Pathé, uma bateria de arcos voltaicos, geradores, 20.000 metros de negativos impressionados, enquanto património da firma-mãe, e a patente nº 9394 de uma invenção, registada a 12 de Novembro de 1914, o Cine-Magic. Tratava-se de «um novo processo de reflexão cinematográfica conseguindo que as figuras, em vez de se reflectirem num écran, apareçam isoladas num palco, iludindo por completo a vista, dando a impressão de que são pessoas que se movimentam e não reflexões cinematográficas». Isto é, «um processo em que se tentava obter a terceira dimensão, ou fosse o tão almejado relevo»: a realidade virtual, em suma, umas boas oito décadas avant-la-lettre (M. Félix Ribeiro, em Filmes, Figuras e Factos do Cinema Português). Sendo inquestionável a eficácia do processo mas não sendo prioridade a sua execução, a patente será renovada de dois em dois anos, até 1928, ano em que a Invicta deixará de existir.
Quinze dias depois, em nova reunião, é decidido que, ao serviço da empresa, se desloque ao estrangeiro (França e Itália), o gerente, Alfredo Nunes de Matos, para comprar maquinaria. Entretanto, em 1907, instalara-se ali mesmo ao lado o dono da Fundição Alegria & Cª, empresa do Rio de Janeiro, um retornado português, chamado Henrique Ferreira Alegria. Interessado pela exibição cinematográfica, abrira a 18 de Maio de 1912 o Cinema Olympia, a dois passos do Jardim Passos Manuel. Acaba por ser integrado na nova empresa como director artístico, isto é, como director de produção. Matos e Alegria partem juntos para Paris em meados de Janeiro de 1918. Numa entrevista ao jornal O Século, dada no dia 14 desse mês, Nunes de Matos declara: «Vou em primeiro lugar a Paris e à Itália procurar o que há de melhor, a última palavra em mecanismos. Porque o meu principal intento é emancipar-me de estrangeiros, embora não deixe de concordar que, para começo, é lá que tenho de ir buscar tudo». Deixa também claro que tenciona trazer de lá um régisseur à altura das suas ambições.
Em Paris, junto da Pathé Frères, na Rue de Ravart, obtêm os viajantes «a mais perfeita e amigável compreensão» e, coisa não menos importante, o plano e o projecto das futuras instalações dos estúdios da Invicta Film. Cede-lhes a Pathé também os técnicos de que precisam: um realizador, de nome Georges Pallu, um operador de imagem, Albert Durot, um chefe de laboratório, Georges Coutable e a sua mulher Valentine, montadora de filmes, O casal será mais tarde substituído por outro operador e outra montadora, vindos também da Pathé, J. Trobert e Madame Meunier. É contratado ainda um arquitecto decorador, Albert Durot, depois substituído por Maurice Laumann, também dos quadros da Pathé
O convénio entre as duas empresas é assinado a 17 de Fevereiro. A 12 de Março de 1918 é firmado o contrato de trabalho entre a Invicta Film e Pallu, que se responsabiliza pela escolha dos argumentos com o director artístico, pela sua adaptação para cinema e ainda pela montagem dos cenários. Seria ele também o responsável pela construção do estúdio. O contrato era de um ano, mas a colaboração duraria cinco. É Pallu quem traz para a empresa o realizador Rino Lupo, que será também, com Pallu, um dos dois mais importantes realizadores da Invicta Film.
(...) Não existe rede de distribuição que sirva os interesses da empresa. Os problemas financeiros surgem a partir de meados de 1923. Tenta-se ainda exportar alguns dos filmes já produzidos para o Brasil e Estados Unidos, visando os centros de emigração. Consegue-se vender alguns, mas os resultados são poucos.
A Invicta Film dispensa todo o pessoal da produção a 15 de Fevereiro de 1924, mas mantém o laboratório aberto. Encerra definitivamente a actividade em 1928.
[Fonte: Wikipedia]